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28 Junho

14 Congress IAPMA

"Logicamente a primeira inquietação de Eliana Anghinah não foi o papel. Sua formação e pesquisas correspondiam a um forte conhecimento da possível incorporação de linguagens plásticas já vivenciadas,que foram se esgotando nela mesma e à sua volta.

O "branco" a acompanha de longe, não com sentido de pausa, de fundo silencioso, mas bem ao contrário, participante, um suporte ativo, interlocutor.

Simplificando a compreensão de sua obra atual, diríamos que para ela mais interessou aquilo que estava "atrás da casa" do que na própria casa para habitar. Deve ser este o caminho real da maioria dos artistas que trilham a poderosa vertente dos materiais de "Arte". A iniciação não foi pelo portal da evolução de um arTesanato sedutor, mas sim pela criação de "situações visuais palpáveis", onde veículo e imagem se fundem, renovando funções e conteúdos ancestrais. A sensibilização através dos delicados percursos da luz torna-se um tema em si mesma, que pode ser percebido em contraponto com o contorno dos símbolos incorporados.

Leitura envolvente da sequência dos 16 Circulares e dos comoventes 6 brancos 40 x 40 usando a medição da gravidade para aferir presenças e ausências dialogando com o "peso" do tempo e na escavação de apoio dos objetos-moldes selecionados anteriormente.
Materialização de uma resposta puramente imaginária, que se deu antes e depois da primeira motivação da artista. Delicadamente somos levados pelas mãos do nosso olhar a percorrer as pulsações infinitas desta série que varia constantemente sem se movimentar. Um caminho promissor da previsível e ilimitada vertigem, com todos os riscos que a Arte de ponta solicita.

Estabelecido este patamar de liberdade aguda, pela sua experimentação inquieta, Eliana Anghinah libera a ambiguidade de "tramas informadas"pelas substâncias de origem (bananeira e algodão) e dança pictoricamente com as mesmas. A polpa é utilizada de maneira inovadora e as tessituras circulam em evidência, surpreendendo pelas soluções, pelos formatos inesperados, pelo acoplamento de cores naturais até numa certa transgressão das leis da natureza.

Isso nos leva à questão da gênesis de sua visualidade: o Brasil. Existe uma sintaxe subjacente em toda obra de arte brasileira, que é reflexo de nossa generosa oferta de tecnologia e da inestimável escala física e espiritual de nossos conflitos e rompimentos com a tradição. Desse corajoso destino ninguém escapa, Eliana o representa muito bem.

Ela não se contentou com a superfície do papel. Foi além, deu-lhe um novo corpo e uma nova alma."

Maria Bonomi, artista plástica
Doutora em Poéticas Visuais pela ECA-USP em 1999.
Fundadora e Conselheira da AIAP e do Sinapesp - São Paulo.

Última modificação em Terça, 29 Junho 2021 14:22
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